“Sound of Metal” (2019), conhecido como “O Som do Silêncio” no Brasil, é um filme dirigido e co-escrito por Darius Marder que busca explorar a experiência da perda auditiva em seu personagem principal, Ruben, usando cenas sem legenda e diálogos em linguagem de sinais com atuações impactantes por Riz Ahmed, Olivia Cooke, Paul Raci, Lauren Ridloff e Mathieu Amalric. Esta abordagem inovadora cria uma experiência imersiva e autêntica para os espectadores, ao mesmo tempo em que lança luz sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência auditiva. Neste artigo, discutiremos a maneira como o cineasta retrata a perda de audição, explorando sua técnica narrativa e o impacto emocional que ela causa.
O contexto da perda de audição
A perda de audição é uma condição sensorial que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Ela pode ser causada por vários fatores, como exposição a ruídos altos, lesões, doenças e envelhecimento. No entanto, cada indivíduo vivencia a perda auditiva de maneira única, enfrentando desafios físicos e emocionais específicos. “O Som do Silêncio” busca retratar essa jornada individual através da perspectiva de seu protagonista, Ruben, interpretado por Riz Ahmed.
No artigo “Diálogos: Espetáculo ou clareza?”, debatemos o impacto e técnicas de som na compreensão dos diálogos. Algo que o “O Som do Silêncio” trabalha como um pilar de sua narrativa em uma abordagem inovadora, convidando o público a vivenciar diálogos pela linguagem de sinais.
A técnica narrativa e sua representação da perda de audição
A fim de transmitir de forma eficaz a experiência sensorial de Ruben, o cineasta adota uma série de técnicas narrativas distintas. Em vez de recorrer a legendas ou diálogos tradicionais, o filme utiliza o som como uma ferramenta essencial para mergulhar os espectadores na perspectiva do personagem. O público é convidado a experimentar a gradual deterioração auditiva de Ruben, à medida que sons são abafados e distorcidos, criando uma sensação de isolamento e desconexão.
Cenas sem legenda: um mergulho na subjetividade
Uma das estratégias-chave usadas pelo cineasta é a ausência de legendas durante as cenas em que Ruben está interagindo com personagens que usam linguagem de sinais. Essa escolha artística oferece aos espectadores uma experiência semelhante à do próprio protagonista, que está aprendendo a se comunicar em uma nova língua. O público é desafiado a prestar atenção nas expressões faciais, gestos e movimentos corporais dos personagens para captar a essência das conversas e as nuances emocionais nelas contidas.
Inclusive, recomendamos que, ao assistir ao filme, parte da atenção seja realmente dirigida à forma como Ruben se expressa. Riz Ahmed passou cerca de seis meses treinando e aprendendo a linguagem de sinais para que sua atuação fosse a mais fiel possível, e é impressionante ver como conseguimos nos adaptar de forma rápida a uma nova forma de comunicação.
Diálogos em linguagem de sinais: uma forma autêntica de comunicação
A inclusão de diálogos em linguagem de sinais é um aspecto fundamental de “O Som do Silêncio”. Além de fornecer representatividade para a comunidade surda, essa escolha narrativa permite uma comunicação autêntica e genuína entre os personagens. Ao mostrar as conversas em linguagem de sinais sem a necessidade de tradução verbal, o filme nos convida a compreender a beleza e a riqueza dessa forma de comunicação não-verbal, rompendo barreiras linguísticas e oferecendo uma perspectiva única sobre as experiências das pessoas surdas.
Neste mesmo sentido, podemos destacar a compositora e cantora Luiza Caspary que, como trouxemos em nosso artigo “Acessibilidade, amor, carinho e empatia”, tem o intuito de transmitir seus projetos da maneira mais acessível possível. Em seu clipe musical “O Caminho Certo“, a cantora foi pioneira ao aplicar audiodescrição, inclusive em apresentações ao vivo, algo raríssimo e apreciado pelo público cego. Em outro exemplo mais próximo do tema deste artigo, Luiza lançou o álbum “Mergulho” em conjunto com uma equipe especializada de Libras que participa integralmente dos vídeos no disco, concretizando um projeto pioneiro, visando tornar acessível um álbum musical ao público surdo.
O impacto emocional da representação da perda de audição
Retratando a perda de audição de forma tão imersiva e visceral, “O Som do Silêncio” tem o poder de despertar a empatia dos espectadores. Através da experiência compartilhada com o personagem principal, somos convidados a refletir sobre a importância da audição em nossas vidas e a compreender os desafios enfrentados por aqueles que vivem com perda auditiva ao mesmo tempo em que é demonstrado ao público ouvinte o senso de comunidade e orgulho dos surdos que, com sua linguagem e cultura própria, não se veem como deficientes. O filme apresenta um retrato humano e complexo da jornada de adaptação de Ruben, explorando temas como identidade, aceitação e superação.
Reflexões finais
“O Som do Silêncio” é um exemplo notável de como o cinema pode ser usado como uma forma de expressão artística e uma ferramenta poderosa para sensibilizar o público sobre questões importantes. Ao retratar a perda de audição de maneira inovadora, com cenas sem legenda e diálogos em linguagem de sinais, o cineasta oferece uma experiência autêntica e envolvente, que nos desafia a repensar nossa percepção da audição e a forma como nos comunicamos. Por meio dessa abordagem narrativa única, o filme nos convida a promover uma sociedade mais inclusiva e a valorizar a diversidade de experiências que existem ao nosso redor.