A dublagem no Brasil conta com uma longa história e presença no cotidiano dos brasileiros. Desde 1936, com a dublagem de “Branca de Neve e os Sete Anões”, nos acostumamos a ouvir as vozes de nossos compatriotas apresentando diálogos e narrativas estrangeiras de maneira marcante e compreensível. Até por isso, diversos atores internacionais de sucesso têm a voz de um dublador como representação no Brasil; isto é, para uma parcela significativa dos brasileiros, a voz do dublador se torna a voz do ator.
A dublagem é a ferramenta de acessibilidade mais popular no Brasil, presente na televisão aberta, em animações e no cinema em geral. É fácil entender a razão dessa presença notória, sendo a dublagem a forma mais fácil para o espectador acessar conteúdos internacionais e certamente a mais compreensível para o público infantil. Isso se dá pelo trabalho do dublador, que, além de encenar o personagem e tornar sua voz uma expressão natural da cena e narrativa, ainda traduz expressões e jargões estrangeiros para que o brasileiro consiga entender os significados dentro de sua vivência e cultura.
Um exemplo que demonstra o alcance da dublagem é a série francesa “Lupin”, uma série policial baseada em uma coletânea de livros com um misterioso ladrão como protagonista. Por ser de origem francesa e ter feito muito sucesso, a série acabou evidenciando a tendência que temos discutido, a necessidade de serviços de acessibilidade com qualidade, onde 86% do público utilizou dublagem ou legendagem para assistir Lupin. Este tipo de sucesso global vem disseminando a importância destas ferramentas e transformando a maneira de consumo destes audiovisuais.
Sempre é bom lembrar que, apesar de ser a ferramenta mais popular de acessibilidade, ela não cobre todas as necessidades de acesso dos públicos. Discutimos este ponto mais profundamente em “Legendagem de Vídeos: Essencial na era digital”, onde debatemos os desafios e o papel da legendagem em meio a esta grande produção de conteúdos gerada atualmente.
MOMENTO DA DUBLAGEM
O audiovisual mundial se encontra num momento de reestruturação. Acompanhamos alguns meses atrás a greve dos atores de Hollywood, que parou a indústria para reivindicar direitos e renegociação de contratos para se adaptar ao modo de consumo dos espectadores e enfrentar a ameaça da inteligência artificial. Algo parecido está acontecendo com os dubladores no Brasil, onde vem sendo expressa a preocupação com a substituição das atuações inteiramente por IA. A campanha Dublagem Viva trata justamente sobre isso, reunindo renomados dubladores para defenderem a dublagem brasileira. Convidamos todos a conhecerem a causa da Dublagem Viva pelo site dublagemviva.com.br ou pelo Instagram @dublagemviva. Neste momento a campanha conta com uma petição de mais de 100 mil assinaturas!
Esse movimento é especialmente importante dado o momento da indústria. Como conversamos no nosso artigo anterior, “Localização na Legendagem”, onde discutimos a importância da localização na ótica da legendagem em meio a essa grande produção de conteúdos digitais. O mesmo se aplica à dublagem, com mais plataformas e mais produções sendo criadas, as ferramentas de acessibilidade são essenciais para distribuição e aceitação destas obras nos mais diferenciados locais. Para que este trabalho seja bem feito, são necessárias diversas funções que constroem a cadeia produtiva até que o audiovisual esteja pronto para consumo.
AVANÇO DA IA
Levando em conta a importância da acessibilidade para conteúdos globais, a explosão de produções audiovisuais de diversas escalas e as cadeias de trabalho necessárias para oferecer legendas e dublagem com qualidade, os gigantes do mercado veem no avanço da IA uma oportunidade de aumentar seus lucros e automatizar parte dessas funções. A resistência por parte dos prestadores de serviço da indústria é justificável, visto que os conglomerados de produtoras e distribuidoras planejam utilizar o próprio trabalho dos atores para a produção de Inteligências Artificiais que irão substituí-los. A pauta dos atores de Hollywood foi muito parecida, demonstrando preocupação com o uso de suas imagens e vozes para produções futuras sem autorização. Visto o avanço dos efeitos gráficos e aplicações de IA, não é difícil enxergar um futuro onde as narrativas, atuações e roteiros serão totalmente gerados, pelo menos do ponto de vista de capacidade ferramental.
CONCLUSÃO: HUMANO OU IA?
É natural com o desenvolvimento de novas ferramentas e tecnologias que haja transformações nos modos de trabalho e atritos na aplicação destas tecnologias nas cadeias produtivas atuais. Porém, é necessário ter precaução quando o assunto é IA. Para além dos pontos de direitos dos criadores e preocupação com plágios, temos que pensar se queremos viver em um mundo onde nosso entretenimento é gerado por algoritmos que nós mesmos alimentamos. O entretenimento audiovisual é um setor valioso globalmente, que emprega muita gente, pautado na expressão artística e reflexão de temas relevantes na nossa sociedade. É de nosso interesse preservar estas características.
Disto isto, a IA não é algo negativo por si. Sua aplicação pode ser muito benéfica tanto para os consumidores quanto para as produtoras. Novas funções de trabalho, novas ferramentas, novos processos, novas formas de consumo. Esperamos que com o tempo possamos chegar a um equilíbrio, onde a tecnologia possa aumentar nosso alcance, capacidade de produzir e consumir conteúdos cotidianos, além de auxiliar a construir inspiradoras obras audiovisuais feitas por pessoas, para pessoas.
Saiba mais: salutcaptions.com
Artigo escrito por:
Victor Franco Poli – Designer
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